Nos últimos anos, muitas cidades europeias adotaram Zonas de Emissões Reduzidas (ZER) como parte das suas estratégias para combater a poluição e melhorar a qualidade de vida urbana.
Em Portugal, algumas das maiores cidades, como Lisboa e Porto, já começaram a implementar estas zonas, com impactos visíveis em diferentes áreas da sociedade, economia e meio ambiente.
Neste artigo vamos explorar o conceito de ZER, o seu impacto nas cidades portuguesas e os desafios e oportunidades que trazem para o futuro.
O que são Zonas de Emissões Reduzidas?
As Zonas de Emissões Reduzidas são áreas onde o acesso a veículos com elevadas emissões de poluentes é restringido ou proibido. O objetivo é reduzir a poluição do ar, que tem graves efeitos na saúde pública e no ambiente, limitando a circulação de carros mais antigos ou movidos a combustíveis fósseis e incentivando o uso de alternativas mais ecológicas, como carros elétricos, bicicletas ou transportes públicos.
Esta política faz parte de uma estratégia global para cumprir as metas climáticas estabelecidas pela União Europeia, que tem como objetivo atingir a neutralidade carbónica até 2050. Em Portugal, estas zonas fazem parte de um esforço mais amplo para reduzir as emissões de CO₂ e promover a mobilidade sustentável.
Cidades portuguesas e a implementação de ZER: só em Lisboa, para já
A cidade de Lisboa tem sido uma das pioneiras na introdução das ZER em Portugal. Desde 2011, a capital começou a implementar restrições na circulação de veículos mais poluentes no centro histórico. A área abrangida inclui locais de elevado tráfego, como a Baixa Pombalina e a Avenida da Liberdade, onde a poluição do ar tem sido um problema persistente.
Em 2021, o município de Lisboa deu mais um passo ao anunciar o seu Plano de Ação Climática, que prevê a expansão das zonas de baixas emissões para novas áreas da cidade, até 2030. Esta expansão será acompanhada de investimentos em infraestruturas para facilitar a mobilidade sustentável, como mais ciclovias e carregadores para veículos elétricos.
No Porto, a Câmara Municipal também tem planos para criar zonas de emissões reduzidas, estando já em fase de estudo para implementação nos próximos anos. Tal como Lisboa, o Porto enfrenta problemas graves de qualidade do ar devido ao tráfego intenso, e o município vê estas medidas como cruciais para a saúde dos seus habitantes.
Impacto ambiental e na saúde pública das ZER
Os benefícios ambientais das Zonas de Emissões Reduzidas são claros: a redução da circulação de veículos mais poluentes tem como consequência direta a diminuição da emissão de gases de efeito estufa e de outros poluentes nocivos, como o dióxido de azoto (NO₂) e partículas finas (PM10 e PM2.5). Segundo dados da Agência Europeia do Ambiente, a poluição atmosférica é responsável por mais de 6.000 mortes prematuras por ano em Portugal, o que faz da melhoria da qualidade do ar uma prioridade de saúde pública.
Com a criação de ZER, as cidades tornam-se também mais agradáveis para viver. Menos poluição atmosférica e sonora, menos engarrafamentos e mais espaços para bicicletas e peões criam um ambiente mais saudável e sustentável. A longo prazo, isto pode ter um impacto positivo na saúde dos cidadãos, reduzindo a incidência de doenças respiratórias e cardiovasculares.
Impacto económico
O impacto económico das Zonas de Emissões Reduzidas nas cidades portuguesas tem dois lados. Por um lado, os sectores ligados ao transporte e à mobilidade podem enfrentar desafios iniciais, especialmente os pequenos negócios dependentes de veículos mais antigos. A transição para um transporte mais verde requer investimento em frotas elétricas, o que pode representar um custo significativo. Empresas de logística, táxis e mesmo alguns residentes podem sentir-se prejudicados por estas novas regras.
No entanto, esta transição também cria novas oportunidades. O mercado de veículos elétricos, por exemplo, tem crescido exponencialmente em Portugal. Em 2023, a venda de carros elétricos e híbridos aumentou mais de 60% em comparação com anos anteriores, segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP). Além disso, o desenvolvimento de novas infraestruturas de mobilidade sustentável (carregadores elétricos, ciclovias, etc.) gera novas oportunidades de emprego e de negócio.
Também se prevê que as ZER possam beneficiar o setor turístico, ao tornar as cidades mais agradáveis para quem as visita. Áreas menos poluídas e mais seguras para peões e ciclistas podem atrair mais turistas que procuram destinos sustentáveis.
Desafios e críticas
Embora as ZER tragam muitos benefícios, a sua implementação também enfrenta críticas e desafios. Uma das principais críticas tem sido a falta de alternativas acessíveis para quem depende do carro como meio de transporte. Os transportes públicos em algumas cidades portuguesas ainda carecem de melhorias significativas em termos de capacidade e cobertura.
Outro desafio é garantir que estas zonas não contribuam para a desigualdade social. Nas cidades mais pequenas ou em áreas suburbanas, onde as ZER ainda não são uma prioridade, os habitantes podem sentir-se injustamente afetados se forem obrigados a mudar de carro ou pagar taxas elevadas para circular em determinadas áreas.
O futuro das ZER em Portugal
Além de Lisboa e Porto, outras cidades portuguesas, como Braga e Coimbra, já manifestaram interesse em estudar a viabilidade da implementação de ZER nos próximos anos.
O crescimento do mercado de energia verde também desempenhará um papel crucial no sucesso destas zonas. O aumento da capacidade de produção de energia renovável em Portugal, principalmente através de fontes solares e eólicas, permitirá que a transição para uma mobilidade elétrica seja alimentada de forma sustentável, reduzindo ainda mais as emissões de carbono.
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