Nos últimos anos, ouvimos cada vez mais falar sobre créditos de carbono no contexto de mudanças climáticas e sustentabilidade. Mas o que são realmente? Como funcionam e de que forma podem ser aplicados na prática?
Vamos explorar estas questões e perceber de que forma os créditos de carbono podem ajudar na luta contra as emissões de gases com efeito de estufa (GEE). 🌳
Qual a origem dos créditos de carbono?
A origem dos créditos de carbono remonta ao Protocolo de Quioto, adotado em 1997 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP3). Este protocolo foi o primeiro documento internacional a estabelecer obrigações juridicamente vinculativas para os países industrializados, impondo limites e metas claras para a redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
Apesar de ter sido um marco importante, este protocolo abrangia apenas os países industrializados, que representam uma parte do total de emissões globais. Para enfrentar as alterações climáticas de forma mais inclusiva, foi necessário um acordo global mais ambicioso: o Acordo de Paris, adotado em 2015 durante a COP21.
Foi nesse acordo que a comunidade internacional deu um passo significativo para combater as alterações climáticas. Este tratado histórico estabeleceu metas claras para limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, com o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica até 2050.
Para atingir este objetivo ambicioso, foram criadas estratégias que incluem a compensação de emissões de carbono através do mercado de carbono. Neste contexto, a ONU lançou a iniciativa Climate Neutral Now, que incentiva empresas, organizações e governos a reduzirem as suas emissões e a compensar as que não podem evitar. Esta abordagem baseia-se em três pilares fundamentais:
- Substituir combustíveis fósseis por energias renováveis;
- Reduzir o consumo de energia através de práticas mais eficientes;
- Capturar carbono através de projetos de reflorestamento e regeneração florestal.
Os créditos de carbono emergem, assim, como um mecanismo que permite materializar estas compensações. Estes certificados são regulados pela ONU e comprovam que uma determinada quantidade de CO₂ foi reduzida ou removida da atmosfera.
O que são créditos de carbono?
Os créditos de carbono representam uma unidade de medida que permite a compensação de emissões de dióxido de carbono (CO₂) e outros gases de efeito de estufa. Cada crédito de carbono equivale a uma tonelada de CO₂ que é evitada ou removida da atmosfera. Estes créditos são usados por empresas, organizações e até por indivíduos que desejam compensar as suas emissões de carbono, ajudando a reduzir o impacto ambiental das suas atividades.
Na prática, os créditos de carbono surgem como parte de programas de mercado de carbono, onde empresas e países podem comprar e vender créditos como forma de cumprir metas ambientais estabelecidas por regulamentações ou políticas de sustentabilidade.
Estes créditos podem ser gerados através de iniciativas que promovem a redução ou remoção de CO₂, como projetos de reflorestamento, energias renováveis ou gestão de resíduos. ♻️
Como funcionam os créditos de carbono?
O sistema de créditos de carbono baseia-se na ideia de que as emissões de gases com efeito de estufa podem ser compensadas através de ações noutros locais que reduzam ou eliminem essas emissões. Abaixo explicamos como funciona, em três etapas principais:
1. Cálculo das emissões
O primeiro passo para utilizar créditos de carbono é calcular a quantidade de CO₂ emitido por uma empresa, organização ou indivíduo. Este cálculo pode abranger uma ampla variedade de atividades, como o consumo de energia, deslocações, produção industrial ou até mesmo a utilização de recursos naturais. 🔁
Existem ferramentas e consultorias especializadas que ajudam a determinar a pegada de carbono de uma entidade, o que facilita saber quantas toneladas de CO₂ devem ser compensadas.
2. Compra de créditos
Depois de quantificadas as emissões, uma empresa ou indivíduo pode comprar créditos de carbono para compensar essa pegada. Estes créditos são comprados a partir de projetos certificados que geram uma quantidade específica de reduções de carbono.
Os créditos disponíveis no mercado vêm de projetos variados, como plantação de árvores, captura de metano, energias renováveis e iniciativas de eficiência energética. Estes projetos são auditados e verificados por entidades certificadas, garantindo que os créditos vendidos representam de facto uma redução real de CO₂.
3. Compensação das emissões
Uma vez adquiridos, os créditos de carbono podem ser utilizados para compensar a quantidade de CO₂ emitida. Isto significa que a empresa ou pessoa “neutraliza” as suas emissões, apoiando ao mesmo tempo projetos sustentáveis.
Esta compensação é frequentemente utilizada por empresas que desejam atingir metas de “neutralidade de carbono”, algo que tem tido cada vez mais importância no contexto de regulamentações ambientais e responsabilidade social.
Como aplicar na prática?
Agora que sabemos o que são e como funcionam, vejamos de que forma os créditos de carbono podem ser utilizados na prática por empresas e indivíduos:
Empresas e negócios
- Compensação de emissões empresariais: empresas de todos os setores podem adquirir créditos de carbono para compensar as emissões das suas operações. Isso é especialmente útil para empresas de setores com grandes pegadas de carbono, como transporte, energia e construção.
- Marketing verde e responsabilidade social: a compensação das emissões através de créditos de carbono é uma forma de as empresas demonstrarem o seu compromisso com o ambiente, o que atrai consumidores conscientes e melhora a reputação corporativa. 🌍
- Cumprimento de regulamentações ambientais: em mercados regulados, como o da União Europeia, a compra de créditos de carbono é uma exigência legal para certos setores.
Indivíduos
- Compensação de emissões pessoais: qualquer pessoa pode calcular a sua pegada de carbono, seja através de deslocações de carro, voos, consumo de eletricidade ou outros, e comprar créditos de carbono para compensar essas emissões.
- Contributo voluntário para o ambiente: algumas pessoas optam por comprar créditos de carbono como uma forma de contribuir ativamente para projetos que ajudam a combater as mudanças climáticas, como a conservação de florestas ou a energia limpa.
Benefícios e desafios dos créditos de carbono
Os créditos de carbono são uma ferramenta poderosa para mitigar as mudanças climáticas, mas não estão isentos de desafios. Abaixo listamos alguns dos principais pontos positivos e obstáculos.
Benefícios
- Redução das emissões globais: ao apoiar projetos de compensação de carbono, estamos a reduzir as emissões totais de CO₂ na atmosfera.
- Financiamento de projetos sustentáveis: a compra de créditos de carbono canaliza recursos financeiros para iniciativas sustentáveis que, muitas vezes, precisam de investimento para serem viáveis.
- Consciência ambiental: a utilização de créditos de carbono incentiva empresas e indivíduos a refletirem sobre a sua pegada de carbono e a adotarem práticas mais sustentáveis. 🫡
Desafios
- Transparência e credibilidade: nem todos os projetos de créditos de carbono são verificados de forma adequada. É essencial escolher projetos certificados por entidades reconhecidas.
- Greenwashing: algumas empresas compram créditos de carbono apenas para melhorar a imagem, sem realmente reduzirem as suas próprias emissões.
Implementação em Portugal: o mercado voluntário de carbono
Portugal tem demonstrado um compromisso sólido com a sustentabilidade e a ação climática. Em outubro de 2024, o Governo português criou o Mercado Voluntário de Carbono, procurando incentivar projetos que reduzam as emissões de GEE ou promovam o sequestro de carbono no território nacional. 🇵🇹
Para facilitar a participação neste mercado, foi lançado o portal mvcarbono, que disponibiliza informações sobre o funcionamento do mercado, requisitos para os agentes envolvidos e metodologias de carbono. Além disso, o Governo abriu um concurso para a submissão de manifestações de interesse por parte de promotores de projetos, com o objetivo de identificar e priorizar iniciativas que contribuam para a neutralidade climática do país.
Os créditos de carbono como caminho para um futuro sustentável
Os créditos de carbono oferecem uma solução prática para compensar as emissões de CO₂ e são uma ferramenta poderosa para empresas e indivíduos que querem contribuir para um futuro mais verde.
Embora não substituam a necessidade de reduzir as emissões, os créditos de carbono são uma forma de mitigar os impactos das atividades que ainda dependem de fontes de energia e processos intensivos em carbono.
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