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Apagão e painéis solares: explicamos tudo

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No dia 28 de Abril de 2025 um colapso súbito na rede eléctrica peninsular desligou, em cinco segundos, cerca de 60% do consumo em Portugal e Espanha, obrigando-as a um complexo processo de black start e deixando visíveis os limites dos actuais sistemas fotovoltaicos ligados à rede.

Neste artigo explicamos, de forma simples, por que razão as casas com painéis solares e baterias também ficaram às escuras, como funcionam os inversores, que alternativas existem para garantir autonomia total e porque é que a rede precisa hoje de “motores de inércia” — condensadores síncronos capazes de estabilizar a frequência quando já quase não há turbinas convencionais a rodar.

1. O que foi o apagão ibérico?

Às 12:33 (UTC+02) de 28/04/2025 (menos uma hora em Portugal) verificou-se uma primeira perda de potência no Sudoeste de Espanha e, em segundos, a frequência caiu ligeiramente abaixo dos 50Hz, levando à desconexão automática de centrais e linhas e à perda de 15 GW, 60% da procura peninsular.

Embora as causas exactas ainda estejam a ser investigadas, a Red Eléctrica espanhola já descartou um ciberataque e aponta para um desequilíbrio geração-demanda exacerbado pela baixa inércia da rede. O restabelecimento exigiu procedimentos de black start – arranque a negro de centrais capazes de gerar sem apoio externo – aplicados por blocos regionais até à reconexão total no dia seguinte.

2. Como funcionam os inversores dos painéis solares

Os módulos fotovoltaicos produzem corrente contínua (CC). O inversor grid-tie converte-a em corrente alternada (CA) à mesma frequência e tensão da rede, injectando energia quando há excedente.
Para garantir a segurança o inversor, monitoriza permanentemente a rede; se deixa de “ver” 50 Hz, activa o mecanismo anti-islanding e desliga-se em menos de dois segundos.

3. Porque é que os painéis se desligam quando falta a luz?

Durante o apagão, mesmo em pleno sol, as famílias com autoconsumo ficaram sem eletricidade porque o inversor detectou a ausência de rede e suspendeu a produção.

Sem inversor activo, os painéis não podem alimentar as cargas internas nem exportar energia. Ficam, na prática, “inúteis” até que o sinal da rede regresse.

4. E as baterias, resolvem?

A maioria dos sistemas domésticos usa baterias acopladas a inversores híbridos. Tal como os inversores simples, estes também se desligam se não detectarem rede, a menos que possuam modo ilha (backup) ou uma backup-box dedicada.

Sem estes acessórios, bastante caros, mesmo baterias cheias deixam de fornecer energia — o que aconteceu em muitas casas portuguesas.

Excepção: sistemas off-grid

Instalações off-grid dimensionadas para funcionar isoladas, usam controladores e inversores específicos que formam uma “mini-rede” própria; por isso mantêm-se em operação durante falhas gerais. São comuns em zonas remotas ou em instalações críticas, mas raros nas áreas urbanas peninsulares.

Alguns artigos científicos onde pode aprofundar o tema:

Vale a pena investir neste sistema?

Para a maioria dos lares cujo objectivo principal é poupar na fatura, o investimento extra em equipamento de backup não se justifica para um evento tão raro. Contudo, quem precisa de autonomia (ex.: telecomunicações, unidades de saúde ou agricultura remota) deve optar por inversores híbridos com modo ilha e quadro de cargas críticas.

5. Vamos um bocadinho mais a fundo na questão

O que é inércia eléctrica?

Nas antigas centrais térmicas a turbina girava a 3 000 rpm; essa massa rotativa armazenava energia cinética que contrabalançava oscilações de frequência. Com menos turbinas em serviço, a rede perdeu “amortecimento”.

Condensadores síncronos – os “motores de inércia”

Um condensador síncrono é, na prática, um alternador a funcionar em vazio, muitas vezes com volante adicional: consome pouco, mas a massa girante devolve energia instantânea quando a frequência cai, ajudando a estabilizar a rede. Os operadores peninsulares já anunciaram planos para instalar unidades deste tipo após o apagão.

Como entra o black start

Quando toda a rede deixa de estar ativa, é preciso “arrancar” um primeiro gerador que tenha combustível e capacidade de se auto-alimentar: centrais hidroeléctricas ou turbinas a gás pequenas são candidatas ideais. Esses grupos energizam passo a passo linhas e subestações, ligam motores de inércia (condensadores) para assegurar frequência e tensão e, por fim, sincronizam regiões até a malha ibérica voltar a formar um único sistema.

Os alertas que o apagão nos deixou

O apagão de Abril serviu de alerta:

  • Autoconsumo ≠ independência: sem modo ilha o seu sistema solar desliga-se com a rede;
  • Baterias acrescentam valor, mas só garantem energia em falha se o equipamento for preparado para operar de forma isolada;
  • À medida que retiramos centrais convencionais, tecnologias de inércia síncrona e arranque a negro tornam-se fundamentais para manter a fiabilidade e acelerar o regresso da luz.

Este tipo de evento é muito raro, e os sistemas com funcionamento totalmente off-grid são demasiados dispendiosos para os consumidores finais.

Devemos continuar a apostar na produção de energias renováveis mas contrabalançar com equilíbrio nas redes elétricas para suportar toda esta produção de energia descentralizada.

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